O PESO DE SER GORDO NUMA SOCIEDADE PADRÃO

30/10/2019

Por Amanda Lacerda


O mundo da moda está cercado por padrões de beleza muitas vezes inatingíveis. Pessoas altas, magras, brancas e de feições afiladas são o modelo a ser seguido segundo os novos padrões de beleza. Mas, isso nem sempre foi assim. Um exemplo desta mudança é a escultura Vênus de Willendorf, datada de 28 mil antes de cristo. Com curvas e seios robustos, a escultura era tida como a idealização da figura feminina na antiguidade. Logo, esse modelo de beleza magro considerado ideal é uma herança do século XX, algo recente que surge com a ideia de corpo são, mente sã. Porém, essa pressão estética disfarçada de preocupação com a saúde pessoal pode ser extremamente prejudicial a saúde das pessoas gordas pois geram problemas como baixa autoestima, isolamento e transtornos alimentares.

O discurso do mundo da moda pautado na saúde decorre de uma pluralidade de produtos e avanços tecnológicos a fim de aprimorar a estética e forma física. Todos os dias surgirem novos produtos de emagrecimento, são pílulas, sucos, comidas diet, light e zero. Mas, são raras as empresas que se preocupam com inclusão de seus consumidores. Para a estudante, Ângela Valporto, de 26 anos, a questão da moda para pessoas gordas é um desafio "Eu vivi nos anos 2000, uma época em que o padrão de beleza era ser uma mulher extremamente magra, ter o cabelo liso, uma mulher compacta. Quando eu ia comprar calça jeans eu não conseguia. Eu ia para a escola com a calça rasgada no meio das pernas porque eu procurava calças em lojas de fast-fashion e não tinha uma calça jeans que servisse em mim, não existia isso".

Reprodução da Internet
Reprodução da Internet

Hoje em dia já é possível encontrar roupas que vistam manequins plus size, que são todos os números a partir de 44, mas a busca por esse tipo de roupa não é fácil e muitas vezes desestimula e enfraquece a autoestima da pessoa gorda por ter que procurar lojas especificas para atender ao seu tipo de corpo. "Com o amadurecimento do padrão de beleza com as Kardashians e também o amadurecimento do mercado que viu o público plus size como uma nova fonte de renda, algumas lojas começaram a investir nisso. Porém, existe uma problemática aí. Essas linhas costumam ter um preço diferenciado. Enquanto uma calça para mulher magra custa até noventa reais, uma roupa plus só é encontrada a partir dos cem. Então esse fator é bastante limitante", declara Ângela.

Os padrões de beleza no mundo da moda, que não respeitam a pluralidade e diversidade humana, representam uma opressão do corpo feminino. A mulher, devido a sua constituição física é naturalmente curvilínea então esse modelo é uma forma de oprimir o corpo natural da mulher, podendo ser considerado até mesmo uma agressão. Isso porque enquanto as modelos seguem dietas super restritivas para manter o corpo reto e servir de cabide para roupas numa passarela, a mulher comum tem que fazer diversos procedimentos anti-naturais e não saudáveis para se encaixar num padrão irreal e perigoso.

Essa pressão exercida pela sociedade em cima da pessoa gorda gera problemas tanto físicos quanto emocionais. As pessoas gordas são tratadas pela sociedade como desleixadas e doentes. O que a população não entende é que é exatamente o estigma que cerca os gordos que pode deixá-los doentes, acarretando problemas realmente graves que inviabilizam a convivência em sociedade, aceitação e felicidade.

Já se sabe que a ditadura da magreza tem ligação direta com o aumento nos casos de anorexia, bulimia e vigorexia - dependência ao exercício físico - entre as pessoas gordas. " Eu já fiz todo tipo de dieta. Muitas vezes me privei de comer pra conseguir entrar numa roupa que só tinha numa numeração muito menor. Eu fiquei doente várias vezes porque me sentia culpada por comer e ia pra academia malhar muito mais do que o meu corpo aguentava.", relata a advogada Júlia Maciel, que sofreu de anorexia por toda sua adolescência. Mesmo assim, a população continua aceitando o preconceito contra pessoas acima do peso como uma questão de saúde.

Até mesmo nos desfiles de pessoas plus size estão existindo padrões. As curvys são a nova moda, As gordas sem barriga, de braços finos, busto e bundas grandes e sem a temida papada vem ganhando as passarelas, deixando para trás outros padrões de corpos gordos. Para a primeira Miss Plus Size de Pernambuco, Babi Luz, isso descaracteriza o movimento de corpos livres "Quando a gente começa a eleger um padrão dentro do que seria um movimento de libertação, fica complicado. Num desfile plus size deveriam ter todos os tipos de corpos gordos, mas não é isso o que estamos vendo nos desfiles mais recentes. Estão criando um padrão de gordas aceitáveis".

Então fica claro que essa aversão ao corpo gordo, essa gordofobia institucionalizada causa danos, prejuízos à saúde, muito mais do que sua falsa motivação de vitalidade. Também fica evidente que a moda é o grande percursor desses padrões inatingíveis e por isso devem ser combatidos. Gordofobia não é crime, mas é um atentado a vida da pessoa gorda e não deve ser tratado com naturalidade. É necessário que exista mais inclusão, a quebra de padrões e menos julgamento dentro da sociedade. 

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